quinta-feira, 5 de julho de 2012

Alfred Adler e o complexo de inferioridade



No ano de 1902, Sigmund Freud criou a chamada Sociedade psicológica das quartas-feiras à qual foram chegando, aos poucos, médicos e intelectuais judeus. Estes, por sua vez, se reuniam informalmente na sala de espera do consultório de Freud: Rudolf Reitler, Otto Hank, Alfred Adler etc., os quais estavam ligados ao que viria a ser conhecido como o “movimento psicanalítico”. Com efeito, é sobre a dissidência efetivada por um de seus integrantes, a saber, Alfred Adler, que pretendo me ater.
Adler foi o primeiro discípulo de Freud a se separar do grupo psicanalítico em 1911. Todavia, as ideias de Adler não tiveram na França uma grande importância, não obstante as noções de complexo de inferioridade e de protesto viril as quais tornarem-se muito famosas sem que seja lembrado que foi Adler o pai destes conceitos.
Adler fundamenta-se na observação segundo a qual uma inferioridade orgânica é compensada, seja pela utilização de outro órgão, seja por um esforço particular imposto ao órgão deficiente. É possível reportar-se a Demóstenes, como exemplo, o qual, apesar de ser gago, tornou-se um grande orador. A inferioridade orgânica também suscita reações psíquicas sob a forma de fantasias compensatórias. Num outro momento, Adler amplia a noção de inferioridade, assegurando que o sentimento de inferioridade existe em todas as pessoas e que possui sua fonte na infância no momento em que o indivíduo se sente pequeno e fraco diante do adulto, sentimento este favorecido pela atitude minimizante dos pais:
O ser humano apresenta esta característica essencial: é a entidade mais frágil do reino animal, quando nasce; a mais delicada, a menos apta para a sobrevivência. Um potrinho, assim que se desembaraça da placenta, já pode dar alguns saltos desajeitados; para um gatinho, são necessários apenas alguns dias para que abra os olhos e são necessárias apenas alguma semanas para  que o pequeno pássaro possa voar só. O recém-nascido humano vem ao mundo num estado de insuficiência que lhe seria catastrófico se não tivesse uma família para olhar por ele... Assim, a criança que toma, pouco a pouco, ao longe de todos esses anos de sua formação, consciência de si mesma, considera-se a princípio como algo inferior, menor (VALINIEFF, 1971 págs.106 e 107).


 Segundo Adler o sentimento de inferioridade faz nascer um desejo compensatório de superioridade, de dominação e de poder que pode conduzir a alguma forma de sucesso pessoal, ou traduzir-se em desejos irrealistas e na busca de objetivos irrealizáveis que caracterizam a neurose. Se a criança sentir grande dificuldade de impor ao mundo exterior seu verdadeiro ego, seu desejo natural de poder transformar-se-á em obsessão. Isto se observa nos casos de compensação. O desejo de superioridade, então, torna-se doentio.
O domínio e o poder, estando nas mãos dos homens em nossa civilização, e a inferioridade do lado da mulher, o desejo de poder em um e outro sexo equivalem a um esforço para alcançar uma posição idealmente masculina. Alfred Adler denomina este esforço de protesto viril que existe, sobretudo nas mulheres, mas que se encontra em todos os indivíduos que, sentindo-se numa posição inferior, se esforça para sair dela:
Mas, de uma pequenez a criança tomará uma força: é um desejo quase imediato de afirmar-se em relação ao mundo. O fim de toda a existência humana está, pois, comandado por uma “sede de poder” destinada a procurar a superioridade sobre o meio ambiente ( VALINIEFF,1972,P.108).
Para Adler é a vontade de poder que é a força motora de toda ação humana, e não a sexualidade, e é esta mesma vontade de poder que é a causa das neuroses, pois, o próprio ato sexual para  ser motivado, não nasce da excitação sexual mas de uma procura de superioridade sobre o parceiro. O complexo de Édipo não é questionado por Adler, todavia, é reinterpretada consoante a perspectiva da vontade de poder. A criança visa submeter-se à mãe e subtrair-se à dominação do pai, para por sua vez dominá-lo. No decorrer da adolescência e na idade adulta do complexo de Édipo constitui um refugio para o indivíduo, pois o tal se fixa a essa situação para evitar confrontos mais difíceis.
Os diferentes conceitos expostos até aqui, conduzem a uma atitude e a um método terapêutico distintos daqueles observados na psicanálise freudiana. A busca das causas iniciais da neurose é abandonada, a qual se define por uma busca de metas inadaptadas e é na correção dessas metas que reside ação terapêutica. Portanto, o foco é na ação educativa e reeducativa, a qual não procura entrar nas profundezas do inconsciente e pretende ser de curta duração. Alfred Adler deu à sua própria teoria o nome de psicologia individual.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRABANT, Georges Philippe. Chaves da Psicanálise. Zahar editores. Rio de Janeiro: 1972.

MEZAN, Renato. Freud. Brasiliense. São Paulo: 1983.

VALINIEFF, Pierre. Psicanálise e complexos. Edições MM. Rio de Janeiro: 1972.