A
maneira mais direta e eficaz de verificar a existência de processos psíquicos inconscientes são os fenômenos do cotidiano.
Freud estava cônscio disto, por isto, escreveu uma obra voltada para o
esclarecimento do público leigo a respeito de suas descobertas clínicas. Esta
obra se chama Psicopatologia da vida
cotidiana (1901), na qual aborda os atos falhos, que incluem os esquecimentos,
os lapsos de linguagem, os erros de escrita, de leitura, e as falsas percepções.
O objetivo de Freud foi mostrar para seus leitores que os mesmos conflitos
inconscientes verificados nos indivíduos neuróticos, portanto, anormais,
ocorriam também na vida de indivíduos ditos normais. Isto
ocorre, porque a diferença entre a normalidade e a anormalidade para Freud é somente
de grau e não de natureza.
Convém destacar que na obra A Interpretação dos Sonhos
(1900) Freud assegura ser o sonho uma
espécie de sintoma neurótico típico das pessoas normais, pois também é fruto de
uma formação de compromisso - espécie de síntese entre dois desejos
antagônicos. Além disso, é também possível fazer semelhante comparação entre os
indivíduos normais e os psicóticos: o esquizofrênico viveria numa espécie de
sonho em estado de vigília ao confundir suas fantasias subjetivas com a realidade, e o sujeito normal ao sonhar viveria uma espécie de esquizofrenia no estado
onírico.
Basicamente,
a diferença entre uma neurose obsessiva, por exemplo, e um ato falho, reside no fato de que
no neurótico o ego não foi forte o suficiente para equilibrar o conflito entre
um desejo reprimido e uma determinação Superegóica, o que culminou num sintoma. Nos indivíduos normais os atos falhos equivalem, num certo grau, aos
sintomas neuróticos, pois também são produtos de um conflito psíquico, mas com a
diferença de que são extemporâneos e "fracos". Extemporâneos porque ocorrem acidentalmente
e logo são controlados, "fracos" porque não geram os sofrimentos psíquicos que
caracterizam os neuróticos, não obstante serem muito comuns. Examinemos a seguir, um caso hipotético de
lapso de linguagem para compreendermos melhor o conflito existente entre o Id e
o Ego, tanto nos indivíduos normais, quanto nos neuróticos.
Suponhamos
a existência de uma pessoa que alimentava sentimentos hostis contra seu vizinho,
depois que este morreu, no seu velório poderá dizer a algum parente próximo: “meus
parabéns pela morte do João” em vez de “minhas condolências pela morte do João”.
Ora, este lapso de linguagem é muito fácil de compreender a partir das noções
de conflito dinâmico entre o Id e o Ego. De um lado, o Ego do indivíduo rejeita o
desejo de querer morto outro ser humano, pois não foi isto que seus pais lhe
ensinaram, nem sua religião. Por outro lado, sua personalidade não foi capaz de
neutralizar por completo o sentimento de hostilidade contra o defunto, o qual
fora expelido para bem longe da consciência. Neste momento se instala uma
espécie de guerra mental, fruto do
conflito entre as pulsões do Id e as
pulsões do Ego: de um lado o Id diz “fique feliz pela morte dele, ele não
prestava mesmo!”, e de outro o Ego diz “
lamente a morte dele, você é um bom católico!”; o Id afirmaria P e o ego afirmaria
~P. Neste conflito de desejos o lapso de linguagem seria, portanto, um breve
vazamento do desejo hostil reprimido, uma
rápida manifestação do recalcado “à luz do dia da consciência”.
muito bom!
ResponderExcluirFicou bem claro e entendido
ResponderExcluir