A
palavra pulsão é a tradução da palavra alemã Trieb, mas não é a única tradução possível. Alguns tradutores
preferem traduzir Trieb por instinto.
Todavia, os tradutores partidários do termo pulsão replicam que Freud utiliza Instinkt quando pretende falar de um
comportamento animal pré-formado, hereditário e característico de uma espécie. Conforme
Freud, não existe a pulsão no singular, mas sim as pulsões, as quais são
reunidas em dois grupos, a saber, as pulsões de autoconservação (ou pulsões do
eu) e as pulsões sexuais. No tocante às pulsões sexuais ele diz que são
inúmeras, surgem de diversas fontes orgânicas e operam a princípio independentemente
umas das outras e sua finalidade é o prazer do órgão.
As pulsões sexuais, a princípio, estribam-se
nas pulsões de autoconservação e seguem, para encontrar um objeto. Observe-se
que Freud nunca falou de apoio de uma pulsão sobre um instinto. O que ele
assegura é de apoio de uma pulsão sexual sobre uma pulsão de autoconservação .
Segundo
Freud as pulsões são um processo
dinâmico consistindo em um impulso que possui sua fonte numa excitação corporal
localizada. Esse impulso move o aparelho psíquico, de maneira que seja
realizado um comportamento visando descarregar a tensão existente ao nível da
fonte corporal. Portanto, a descarga
constitui a finalidade da pulsão. Escreve Freud[1] no
segundo capítulo de sua obra Esboço de
psicanálise sobre as pulsões (termo este traduzido por instintos pelo
tradutor):
“As
forças que presumimos existir por detrás das tensões causadas pelas
necessidades do id são chamadas instintos.
Representam as exigências somáticas que são feitas à mente. Embora sejam a
suprema causa de toda a atividade, elas são de natureza conservadora; o estado,
seja qual for, que um organismo atingiu dá origem a uma tendência a restabelecer este estado assim que ele é
abandonado.”
Na sua obra Pulsões e Destinos das Pulsões, de 1915 Freud expõe de maneira sistemática
esta sua primeira teoria das pulsões. Define
a pulsão como um conceito de fronteira entre o psíquico e o somático.
Conceito fronteiriço quer dizer simplesmente
que se trata de uma estimulação que vem do somático e atinge o psíquico,
atravessando, portanto a fronteira entre o soma e o aparelho psíquico. Sigmund
Freud afirmou que as pulsões possuem quatro elementos: a pressão, o alvo, o
objeto e a fonte.
A
pressão é uma energia potencial, algo latente à pulsão, que exerce sua força e
é de fato, a sua essência. É mediante esta energia potencial que o aparato
psíquico se movimenta. Tal energia potencial impulsiona a psique. Esta energia
flui constantemente, é um potencial energético sempre presente e insaciável,
por não estar a serviço de nenhuma função biológica, como a fome ou a sede.
O
alvo da pulsão é sua satisfação completa, a qual segundo Freud jamais será
satisfeita. O máximo que o organismo e a psique podem atingir é uma satisfação
parcial da pulsão através de sua descarga por objetos.
O
objeto da pulsão pode ser qualquer coisa que permita a descarga parcial da
mesma, pois o objeto da pulsão depende da fantasia e do desejo do indivíduo.
O
objeto da pulsão é aquilo junto a que, ou através de que, a pulsão pode atingir
seu alvo. O objeto é variável, e não está intrinsecamente ligado à pulsão. O
objeto está ligado à pulsão em consequência de sua potencialidade para tornar
possível a satisfação. A variabilidade e contingência dos objetos e alvos das
pulsões, por excelência em relação às pulsões sexuais, são cruciais para
diferenciar a concepção freudiana da pulsão de outras concepções relacionadas ao
conceito de instinto.
Finalmente,
a fonte da pulsão é o interior do corpo. Com efeito, a pulsão esta numa posição
intermediária entre o corpo e a psique.
Freud, em sua obra Pulsões e destinos das pulsões faz a distinção entre pulsões sexuais e pulsões do eu, como já enfatizado. Todavia na
sua obra Além do princípio de prazer de
1920, Freud postula a existência de uma pulsão de morte contra a qual a pulsão
de vida atuaria. Escreve Freud[2]:
“Depois
de muito hesitar e vacilar, decidimos presumir a existência de apenas dois instintos
básicos (pulsões), Eros e o instinto destrutivo... no caso do instinto
destrutivo, podemos supor que seu objetivo final é levar o que é vivo a um
estado inorgânico.”
BIBLIOGRAFIA
BRABANT,
Georges Philippe. Chaves da psicanálise. Zahar Editores. Rio de janeiro:1973.
FREUD,
Sigmund. Além do princípio de prazer. Edição Standard brasileira. Editora
Imago. Rio de Janeiro: 2006.
FREUD,
Sigmund. Esboço de psicanálise. Editora Imago. Rio de Janeiro: 2001.
GOMES,
Gilberto. Os dois conceitos freudianos de Trieb.
Psicologia:
Teoria e Pesquisa, Vol. 17 n. 3. Brasília: 2001.
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ResponderExcluirSobre os comentários acima (não dando mais valor aos comentários do que o artigo) se faz necessário uma reflexão
ResponderExcluirQuando vamos fazer uma leitura sobre o mundo e tudo que nele consta, sem saber (saber não sabido, já dizia Jacques Lacan), temos uma teoria que dá suporte ao nosso discurso. E acreditamos que esta nossa visão de mundo é absoluta, negando as possibilidades de teorias contraditórias coexistirem sem uma anular a outra (ler o matemático brasileiro Newton da Costa e sua teoria paraconscistente). Em relação a isso, podemos mencionar, como exemplo, as teorias da fisica: temos a teoria de Newton (que explica pouca coisas) sobre o universo. Temos a teoria de Einstein que explica o universo de forma macro e a física quântica que explica o universo micro. As três teorias se contratizem, porém nenhuma anula a outra.
Nesta mesma lógica, poderiamos pensar as ciências humanas. Mas um obstáculo epistemológico existente é essa ilusão absolutista da verdade. E isso aponta para as dificuldades das pessoas pensarem de forma mais ampla. (Saber mais sobre isso assistir YouTube: a topologia de Jacques Lacan de Alfredo Eidelsztein realizado na USP)
Ajudou muito! Teria como explicar um pouco sobre o destino das pulsões? a reversão ao contrário; o voltar-se contra a própria pessoa; a repressão e a sublimação. Obrigado!
ResponderExcluirMuito bomm!!! Obrigada pelo texto!!😉❤
ResponderExcluirÓtimo texto.
ResponderExcluirtop demais.
ResponderExcluirtá bem fundamentado, parabéns.
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